Ípsilon – Um Diário da República

“Aviso: isto não é o retrato fotográfico de um país chamado Portugal. A utopia é sedutora e talvez resultasse bem na lombada de um livro ou no vidro de uma galeria. Até porque se se conseguisse tirar uma fotografia de um país, o retrato era capaz de ser o género ideal – tem esse lado directo e condensado, capaz de conjugar muitas coisas numa só. Certo é que se há coisa de que o projecto Um Diário da República quer fugir a sete pés é do “retrato do país”, se o entendermos como tentativa de tudo mostrar, de estar em todas e em todo lado. Em vez disso, o colectivo kameraphoto, que em 2010 se lançou nesta empreitada pioneira de fotografar Portugal durante uma década, optou por uma abordagem mais próxima da deriva, dando a cada um dos seus membros total liberdade para captar o que quisessem e quando quisessem. É um diário escrito a várias mãos onde se vão inscrevendo imagens de um tempo que ameaça tornar-se histórico. Também é um diário errático, onde poderão faltar entradas e onde podem aparecer desabafos do tipo ‘Querido diário: hoje não me apetece fotografar’ ”

Sérgio B. Gomes, Ípsilon, Jornal Público, 24 de Fevereiro, 2014.