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Moscovo, jornal “Izvestia”.

Quando parti para Moscovo não sabia o que me ina esperar. Mas sabia quais eram as minhas expectativas. Queria, através da minha objectiva, perceber um povo e uma cultura tão resistente e importante na história recente, mas de contornos actuais tão fechados e misteriosos…

De onde vem a neblina que encobre a Rússia contemporânea? Como vivem os moscovitas hoje? Qual o peso do passado? O que permaneceu e o que mudou? Como funciona a imprensa neste contexto?

Parti, contudo, com a consciência plena e realista do carácter aleatório do que poderia acontecer, isto é, da sua total imprevisibilidade e, acima de tudo, da minha impotência face as matérias de trabalho e de descoberta que o mundo das notícias me poderia dar nessa semana. Aliás, era esse o pressuposto deste desafio.

Daí que o primeiro ponto claro para mim foi a insuficiência do tempo. Uma semana é um intervalo de espaço/tempo onde, no mundo das notícias, o tudo ou o nada podem acontecer. Em muitos casos os jomais “não funcionaram” nessa semana, mas antes ou depois tudo aconteceu. E este foi o caso do “Izvestia”. Poucas notícias de grande relevo a apontar. Poucos acontecimentos excepcionais e importantes. Outro ponto negativo foia total impossibilidade de fotografar o poder político e as suas personagens emblemáticas. como Medvedev ou Putin, devido às regras de segurança apertadas. Aliás, a engrenagem da imprensa russa na sua relação com o poder político fez-me questionar os limites da sua liberdade… E pergunto-me se a ausência de notícias relevantes não resultou de um ambiente de condicionalismo mais ou menos imposto…

Porém, na fotografia, como em muitas outras coisas, o que primeiro pode parecer um entrave ao desenvolvimento do trabalho toma-se numa grande oportunidade. Assim, a grande vantagem deste marasmo noticioso foi o ter-me dado espaço para fotografar o quotidiano russo. O que é a vida de todos os dias. De que é feita. É isso que leio nas minhas imagens deste “State of Affairs” russo. Consegui fotografar alguns dos protagonistas-chave que compõem a sociedade, cidadãos anónimos que representam estratos sociais importantíssimos do que é a Rússia hoje, ou seja, um país que vive e que se constrói entre a permanência do que foi e a descoberta do que quer ser.

Outro aspecto muito positivo que não posso deixar de referir foi o modo extraordinariamente hospitaleiro como os colaboradores do “Izvestia” me receberam. Sem esse apoio, nomeadamente do editor de fotografia Alexei Belanchev e do fotógrato Sergei, ter-me-ia sido muito difícil conseguir ultrapassar a barreira da língua e perceber o contexto do que via.

Por fim, um outro acontecimento gratificante, foi terem feito capa do “Izvestia” com uma fotografia minha, logo no segundo dia.

Nelson d’Aires, Moscovo, Julho de 2009.