A Natureza Susceptível das imagens
Emília Tavares
“Os mendigos de Carlos Relvas são um exercício estético de poder, de legitimidade para arquitectar uma representação, de fixá-la, de circunscreve-la a uma hierarquia que determina os seus valores de significado.
Parece-nos ajustado colocar ao lado desta mendicidade artificiosa de Carlos Relvas, a série de retratos efectuada por Nelson d’Aires, em 2012, dos operários da Fábrica de Cerâmica de Valadares, no âmbito do processo de falência da mesma.
Os retratos não são apenas retratos, nunca o são. Nelson d’Aires fotografou cada um dos operários recorrendo a estratégias formais visuais para adensar o drama do despedimento. O fundo negro, a iluminação dramática dão espessura a rostos que se poderiam perder na multidão. Aqui eles querem-se destacados, intensos no seu significado, o que ainda assim não bastaria para descrever aquele momento, por isso a breve narrativa biográfica que as acompanha decompõe o anonimato de cada uma daquelas imagens, torna-as verdadeiramente significantes.”
Tavares, Emília. (2015). A natureza susceptível das imagens. O tempo e o modo para um retrato da pobreza em Portugal.